sábado, janeiro 29, 2005

Hoje

Hoje decidi deixar o carro em casa. O dia não está quente,mas o sol brilha. Fui de bicicleta para o escritório,aposto que gostaste da minha atitude!
O dia até correu bem, almocei com o Zé, continua igual a si próprio, estar com ele alegra a vida de qualquer um, passei aquela hora só a rir!
No fim do trabalho decidi ir ter contigo...fui ao teu encontro,mas a pé - roubaram-me a bicicleta- no entanto parecia que voava,tens esse efeito sobre mim... Deves ter saído mais cedo,não te encontrei.
"Voei" até casa, as ruas pareciam tão calmas, as pessoas passavam,mas não me davam encontrões; ainda parei naquela pastelaria onde costumas ir, mas a tua (habitual) mesa estava vazia; nem estavas a falar com a senhora do quiosque que te guarda sempre o jornal - mania a tua de leres as noticias ao fim do dia!
Prossegui o meu caminho em direcção a ti.
Cheguei a casa, não ouvi barulhos - "não tens a televisão ligada?! hummm...?"- espreitei a sala - vazia!, olhei a cozinha - vazia!, subi as escadas e ouvi a aparelhagem do nosso quarto, estava a tocar "somewhere over the rainbow",por quê essa música?tu nem gostas,fui eu quem comprou o cd. Olhei e vi-te deitado na cama, os teus olhos estavam fixos no tecto, tentei beijar-te, mas nem reagiste, toquei-te, não sentiste, vi o teu rosto molhado, os teus olhos inchados...
"O que tens?" - fiquei sem resposta.
O telefone toca. Tu falas com a voz embargada: "eu sei! Zé, ela foi sozinha porque quis...ela nunca pegava na porra da bicicleta e hoje...desculpa,depois falamos."
Estou aqui, encosta-te, eu falo contigo, conto-te o meu dia, abraço-te, beijo-te. Abraça-me também, diz-me como te correu o dia...olha-me! por que choras?
Falo contigo, mas não me ouves, só escutas o teu coração a gritar Dor, a gritar saudade...
Eu sofro porque sofres, consigo ver-te, voei até ti, mas tu já não podes voar até mim.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ao menos voaste. E isto já valeu a pena.


www.afterdark.zip.net

sábado jan. 29, 12:13:00 da tarde 2005  
Blogger Nandita said...

ola! casinha nova!

Acho que o teu post de hoje não podia vir mais a propósito... perdi ontem uma pessoa muito querida, uma tia velhinha que morava em guimaraes...
não sei se a minha sensação de perda e comparavel a do teu personagem, so sei que há cada raio de cada surpresa...


*** fica bem

sábado jan. 29, 03:25:00 da tarde 2005  
Blogger noiseformind said...

Bem... eu limito-me ás maleitas da mente e hoje é o dia de festejar as minhas 100.000 visitas no meu próprio Blog, mas as opiniões são como as crianças da Casa Pia, cada um agarra a sua e fica com ela. Mas vou ser generoso, e dar-te a minha. ; )

Ás vezes morre-se sem saber... ás vezes morre-se sem motivo. Muitas vezes nas ruas cruzámo-nos com espíritos, e eles cheiram a perfume, transpiram, incomodam-nos na porta de saída do Metro, dão um arroto na mesapor trás de nós, e nós não sabemos que eles já estão do outro lado de lá do além-mar dos dias. Muitos fantasmas só sabem que são fantasmas quando chegam a casa, nenhuma mensagem no telefone, nenhuma sms no telemóvel, nenhuma carta humana, só as emitidas pelos computadores em empresas de electricidade, telefone, água, que parecem ser as únicas que são capazes de reconhecer os espíritos, e depois deitam-se numa cama, amarrotando-a como só um espírito pode fazer para depois se levantar cedo, ser visto por tantas pessoas outra vez, não tocar em nada a vida de outrém e assim passar o dia... Ás vezes vejo gente morta com palavras mortas nos lábios mortos e eles têm a certeza que estão vivos, pq o sol não os atravessa. O Sol mostra-se nestas circunstâncias tremendamente piedoso, acrescento...

; )))

sábado jan. 29, 11:00:00 da tarde 2005  
Blogger Ana João said...

se calhar é isso mesmo!
por vezes conseguimos ser fantasmas de nós próprios. sem darmos conta cada um de nós é ja um fantasma, vive só, com os outros mas sem eles ao mesmo tempo...
olharmos a vida numa aparente projecção da nossa alma para o exterior,para o exterior de nós mesmos... ser fantasma às vezes nem é estar morto, é não saber o que fazer da vida.

segunda jan. 31, 12:24:00 da tarde 2005  
Blogger Menina Marota said...

Pior que a morte, é o sentimento de que se está morto, estando-se vivo! Quando amamos alguém, essa pessoa nunca parte. Estará connosco, ficará presente, mesmo ausente, no nosso coração. Eu não tenho medo da morte. Tenho mais medo, de estar morta, estando viva! Chora-se a perda física de alguém, é verdade, essa dor ninguém a tira de nós, mas lembrando a pessoa bela que continua viva no nosso coração, será uma forma de minimizar essa dor.
Beijo :-)
http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

segunda jan. 31, 01:45:00 da tarde 2005  
Blogger Joana said...

E agora, menina? QUe faço eu com o nó que me ficou na garganta? Fiquei surpreendida..

segunda jan. 31, 06:13:00 da tarde 2005  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Que bonito.Fiquei sem palavras.
Como é que se escreve o silêncio?

segunda jan. 31, 10:23:00 da tarde 2005  
Blogger Ana João said...

o silêncio não se escreve sente-se...e às vezzes é tão dificil suporta-lo

terça fev. 01, 03:29:00 da tarde 2005  

Enviar um comentário

<< Home