sexta-feira, abril 29, 2005

O segredo

Ontem fui a uma jantarada em casa de um amigo, o Zé. Eu e outro amigo, nosso, dos dois, um amigo em comum, o JP.
Adoro estes jantares caseirinhos, em que estamos poucos, nesse jantar só três, em que comemos uma massa com carne picada e molho de tomate (é sempre a mesma ementa) e um bom vinho, (que é sempre da escolha dos convidados) que por sinal é tinto, suave, parece seda quando toca na lingua! Este jantar a três tornou-se um habito mensal, mas é sempre em casa do Zé,exigência dele~, ainda não percebi porque, mas eu até gosto, poupa-me o trabalho de ter que cozinhar e de lavar a louça, só ajudo a por a mesa!
O Zé pareceu-me tenso, perguntei-lhe o que tinha, mas não me quis responder! O JP também reparou, mas veio-me perguntar a mim o que tinha o Zé, como se eu soubesse tudo, fiquei irritada com toda a situação, o Zé em silêncio e o JP desconfiado de alguma coisa e a interrogar-me...
Pus a mesa, como é costume, e abri o vinho para respirar... logo de seguida estavam três copos cheios sob a mesa e num abrir e fechar de olhos ficaram vazios.
Jantamos...o Zé bebeu mais do que comeu, suponho que eu e o JP também, rimo-nos imenso, falamos de coisas inconfessaveis até aos deuses e rimo-nos muito...tanto, que tinah que segurar a barriga!
O copo caiu e partiu-se...durante a queda, a mão do Zé tenta apanhar o copo, falha...mas apanha cada caco com o máximo de cuidado..."Zé, dá cá a mão, cortaste-te..."
"Nem penses em tocar-me!!!" e fugiu de mim, deixando-me de olhos espantados, com o braço esticado, em jeito de quem estende uma toalha. O JP ficou sem reação...
O Zé regressa, senta-se no sofa, nós imitamos-lhe o gesto, e em surdina, sob o efeito do tinto, diz:
"shiuu! O que vos vou contar é um segredo meu há já dois anos, mas que não tenho coragem de dizer a mais ninguém. Não tenho coragem de dizer aos que me rodeiam que sou seropositivo".
Agora percebi porque quer que os jantares sejam feitos sempre em casa dele...tem medo de se cortar nos copos partidos.

sexta-feira, abril 22, 2005

Há dias assim...

O dia está cinzento, frio e de quando em vez, pequenas e poucas, gotas de de água caem sobre o chão vindas do céu.
Á minha frente vejo o verde das árvores, das plantas, o castanho da terrra e uma ténue névoa que se interpõe entre o meu olhar e o horizonte...e sinto o cheiro da terra molhada. Sinto-me calma, ouço o silêncio atensiosamente apesar dos carros que passam na estrada mais abaixo.
Estou numa varanda, sentada numa cadeira, abro um livro e começo a ler...o chá está quente, ponho as mãos na chavena para as aquecer (gosto de a segurar assim), o fumo da àgua quente com aroma de limão confunde-se com o fumo do cigarro, que habilmente seguro entre dois dedos, e juntos misturam-se com a névoa que paira no ar.
Estranhamente, ou talvez não, o silêncio continua e não me perturba, mas falta-me um olhar, não o meu, outro. Um olhar que comigo contemple esta imagem, uns ouvidos que comigo ouçam o silêncio, umas narinas que comigo sintam o cheiro da terra molhada, uma lingua que comigo sinta o toque e o sabor do chá quente, umas mãos que comigo segurem a chavena, uam alma que comigo faça companhia...
O dia está cinzento, frio e de quando em vez, pequenas e poucas, gotas de água caem sobre o chão...e eu não apanho nenhuma... Quem quer vir comigo perseguir a chuva?

sábado, abril 16, 2005

Luz de um dia para sempre (parte II) and The end

Bom dia!
Bom dia, para mim!
Bom dia, para ti!
Acordei bem disposta, acordei feliz; uma amiga minha costuma dizer "'tou muito bem, vai acontecer alguma coisa"; mas eu acho que não...estou feliz e nem sei bem porque!
A cama esta quente, sinto-me bem aqui embrulhada nos cobertores, a luz entra pelos buracos da persiana, eu pestanejo quando a encontro, mas num fantastico esbracejar, a que chamamos espreguiçar, bocejo e levanto-me. Vou à casa-de-banho, sabe-me bem a agua fria na cara, sinto-me fresca, renovada, a seguir tomo o pequeno-almoço, no fim enfio-me no chuveiro e deixo a água cair-me na cabeça.
Visto-me, pego nas chaves, e saio de casa.
A manha está cheia de luz, eu estou cheia de luz; "Isso é da primavera...estas apaixonada!"...
Nada disso, desprendi-me de mim, tomei a resolução, é um optimo dia para também passar a ser pura e simplesmente luz...do meu universo!
Quiça não nos voltaremos a ver, talvez façamos,todos, parte da mesma constelação...

sexta-feira, abril 15, 2005

Ele e Ela (parte I)

Ele dirigiu-se a ela, como tantas e tantas vezes fazia. Ela deixou-se ficar, esperou e olhou-o.
Como sempre, ele agarrou-a, deu-lhe beijos e apertou-a contra si dizendo "gosto muito de ti". Já todos sabiam que eles eram amigos, nada mais do que isso, ela sabio, ele também; mas não conseguiam ser indiferentes à empatia que sentiam.
Todas as vezes que tentavam lutar contra o impulso de andarem agarrados, passando por namorados, acabavam por ficar sem saber o que fazer, "caíam" na estupidez de disfarçarem para que os outros não pensassem que eram namorados!
Ele socorria-a das magoas dela, ela fazia o mesmo com ele...eram amigos acima de tudo, precisavam um do outro, porque era assim que tinah que ser, foi assim que se habituaram a olhar um para o outro, a viverem um com o outro!
Os namorados um de ume de outro, depressa se habituavam à situação, não tinham outra solução, compreendiam e aceitavam a relação deles, viam que realmente um rapaz e uma rapariga podem ser verdadeiros amigos, sem preconceitos tolos ligados à sexualidade, à traição, ao fingimento...
Ele apaixonou-se, julgou ela que era mais uma das suas paixões fugazes,mas não...ele tinha-se apaixonado verdadeiramente! Ela ficou feliz, a rapariga até era simpatica...mas ele foi-se afastando, ja não saia com ela como antes, ja não lhe telefonava, ja não iam comer gelado juntos!
Ela perguntou porque razão, ele respondeu" nunca te quis fazer isto, mas ela [a namorada], não entende a nossa relação...mas eu nunca te vou deixar, isso te garanto, dá só um tempo...eu volto, tu sabes bem disso, é só ela te aceitar como parte de mim...".
Ela acreditou, ou pensou acreditar...como sempre esperava por ele, ele voltou a agarra-la, a beija-la a dizer "gosto muito de ti", mas sob a sombra da alguém que não entendia o elo entre eles os dois...
Ela sabe que o tem, sabe que ha luz todos os dias...e talvez amnha esteja brilhante, ainda mais brilhante e talvez ela tenha coragem de a acompanhar!

sábado, abril 09, 2005

A caixinha de surpresas da minha avó

Fui jantar a casa da minha avó, hábito quatidiano, mas recente.
Depois de jantarmos fomos para a sala a tempo de vermos o resto do telejornal (janta-se cedo por lá) e trocar meia dúzia de palavras como é costume, banalidades do dia-a-dia que não fazem conversa nenhuma.
Mas hoje foi diferente. Hoje, a minha avó disse mais do que meia dúzia de palavras, hoje sentei-me no sofá e nem olhei paraa televisão.
Falou daquele homem alto, de figura imponente, não sisudo, mas de poucos sorrisos, não antipatico, mas de poucas palavras, que usava sempre chapéu, que me dava sacos de rebuçados e a quem eu cumprimentava com dois beijos quando lhe dava os "bons dias" nas semanas de férias que passava por lá.
A minha avó falou-me do marido dela, do amigo de infância que aos quinze anos se apaixonou por ela, e que a visitava frequentemente durante quatro anos levando-lhe bugigangas que comprava por aqui e por ali (e que estão, ainda hoje, religiosamente guardadas numa caixa de cartão) até ela aceitar finalmente o compromisso de namorar com ele.
Falou-me do homem que encontrava, muitas vezes, a olhar para a fotografia dela e que lhe dizia "por esta mulher eu ia ao fim do mundo!".
O homem alto, de figura imponente, não sisudo,mas de poucos sorrisos, derretia-se sempre que abraçava a mulher, do homem que desfilava nas ruas da Foz, com a mulher envolvida nos braços dando-lhe beijos, enquanto os filhos ainda pequenos se entretinham com a areia e a agua salgada, não se importando com os olhares alheios que muitas vezes reprovavam tais actos!
Hoje, a minha avó, abriu uma caixa de surpresas, mostrou-me o homem alto, de figura imponente,não sisudo, mas de poucos sorrisos...falou-me do meu avô, um homem ternurento, meigo, preocupado e dedicado à mulher e aos filhos...um homem que eu desconhecia.

quarta-feira, abril 06, 2005

1 hora todas as tardes

Gosto mais do Inverno para estar uma hora no café.
Escolho sempre o mesmo, sento-me na mesa do costume, junto à vitrina. À minha frente pouso o tabaco e o jornal (leio as noticias sempre à tarde) e peço o do costume: "um café"!
Enrolo um cigarro enquanto desfolho calmamenteas folhas do jornal (começo sempre pela última página "Calvin & Hobbes" - mania herdada da minha mãe), leio os titulos e uma ou outra noticia, o resto fica para ler em casa; entrtenho-me com as palavras cruzadas.
Aprecio as palavras de Florbela Espanca e de fernado Pessoa dispostas nas paredes do café ou então as fotografias lá coladas ou ainda as pinturas, geralmente abastractas, por lá penduradas - neste café gostam de estar sempre a mudar os "enfeites" das paredes!
A música é sempre a da "Antena 3", a escuridão do café é já uma caracteristica só penetrada por pequenas lampadas dispostas no tecto e pela luz da vitrina.
Uma hora todas as tardes, para disfrutaros minutos com actualidade, musica e entretimento. Preciso desta hora para mim...sozinha.