domingo, maio 27, 2007

Néctar dos deuses

Senti-me Deus.
E quis sentir-me Deus uma e outra vez, tantas que ao chegar ao fim desejei nunca ter experimentado algo tão bom.
O que me fez sentir dono do meu destino também me destruiu.
O tempo deixou de existir, a vida passou a ser desinteressante e passei a viver em função de ser Deus... e nunca o fui.

sábado, maio 05, 2007

Por detrás da porta azul...

No fundo da rua, depois de passares a casa que tem a porta vermelha, vais ver uma porta azul. É a minha (finalmente levo-te até ao meu canto). Tocas à campainha e se eu não te abrir a porta, levanta o vaso que está pousado junto ao tapete e verás lá uma chave. Abre a porta como se a casa fosse tua.
Se não ouvires barulho algum, senta-te no sofá da sala, há lá um telefone, por baixo dele estará uma carta.

Agora que abriste a carta:
Desculpa o caos, tentei organiza-la o melhor que pude.
Não vás ao andar de cima, deixa-te estar à espera, podes abrir o armário que está à tua esquerda e bebe o que te apetecer, bebe o que mais depressa te puser dormente, tonta, o que for… Lembra-te, não sabes o que se passa, mas estarás quase a sabe-lo… Desconfias o que seja?
Espera… deixa-me dizer-te umas coisas.
Por mais que eu te queira dizer olhos nos olhos que te amo, falta-me a coragem, há algo que me dá um nó na garganta, talvez porque nunca antes me tinha sentido amado, mas agora estou a dizer-to: amo-te.
Não tires esse sorriso da cara, mantém-te assim, és digna das mais lindas fotografias ou telas pintadas pelos melhores pintores…Adoro ver-te assim.
Vê por baixo da mesa que está ao teu lado, essa mesma, a que tem a perna partida (acho que inventei uma nova maneira de decorar casas. Se olhares para a parede atrás de ti, verás que a moldura que lá está, também está rachada), e tira de lá a caixa preta.
Já tiraste? Podes abrir…
Surpresa!!!
Consegui encontrar, é uma caixinha de música igual àquela que tinhas e que se estragou.
Não digas nada, eu sei que adoraste.
Estás contente?
Deves estar a anuir com a cabeça e a morder o lábio inferior pelo nervoso miudinho que te estou a causar…
Queres saber, porque te digo estas coisas? Porque és a pessoa que mais feliz me fez até hoje e que mesmo assim eu deixei pelo caminho. Abandonei-te nestes últimos tempos, não te respeitei como mereces e isto é também, e por isso, um pedido de desculpa.
Pensei muito antes de fazer isto, mas és a única pessoa que, eu sei, que daria pela minha falta se eu desaparecesse…não tenho, nem nunca tive mais ninguém. A minha vida cumpre-se sem a minha participação…
Não te assustes…antes de leres o resto, marca no telefone o 112 e dá-lhes a minha morada.
Por te amar tanto e não te querer fazer sofrer mais e porque não quero correr o risco de te perder para sempre e saber que a culpa é minha, faço agora a minha despedida, deixando em ti todo o meu amor.
Se lês isto agora, será porque morri.
Morri, porque me matei.