sexta-feira, abril 20, 2007

Hoje há saudade - dedicado ao meu Tio Manuel

Passei a porta, com todos os outros, e a casa estava vazia e mais gelada do que o costume.
Nada parecia do dia de hoje, tudo parecia de ontem, não me apercebi que o tempo tinha passado, muito menos de quanto tempo se tratava. Esperava que tudo voltasse ao normal do que era antes, não esperei que voltasse ao de outrora, mas quis crer que um beliscão ou a asa de um insecto me acordavam.
No entanto, num dia em que o sol iluminava e aquecia, em que se via cor e se queria vesti-la, vestimo-nos de negro para a despedida.
O calor colava-se ao negro e parecia entrar em cada poro do meu corpo. Mas ao contrário do esperado, sempre que levantava a cabeça, arrepiava-me. E foi só isto que senti, um arrepio imenso que não me fazia estremecer, sufocava-me e cortava-me o peito numa dor profunda, mas não mordaz; numa dor que se dilui com o tempo, mas só até certo ponto, porque se mantém para sempre e se repete de cada vez que houver um hoje que se deseje que seja ontem, porque nunca poderá chegar a um amanhã.

E no final de tudo, olho e vejo que…

…hoje, se sabe que houve tempo perdido em guerras e desaforos desnecessários.
Hoje há lamentos, lágrimas e nós na garganta; há palavras por dizer, há abraços por dar, há beijos por sentir.
Hoje chama-se menos um nome, ouve-se menos uma voz, há menos um lugar na mesa, há menos uma conversa que se tem…
Hoje há mais lembranças, há mais nostalgia, há mais vontade de pôr os ponteiros do relógio a andar para trás…
Hoje há saudade.

Como sempre, como dantes,
Beijo na testa



Music "the spirit carries on" by dream theater
Lyrics by john petrucci

Nicholas:
Where did we come from?
Why are we here?
Where do we go when we die?
What lies beyond
And what lay before?
Is anything certain in life?

They say, life is too short,
The here and the now
And youre only given one shot
But could there be more,
Have I lived before,
Or could this be all that weve got?

If I die tomorrow
Id be allright
Because I believe
That after were gone
The spirit carries on

I used to be frightened of dying
I used to think death was the end
But that was before
Im not scared anymore
I know that my soul will transcend

I may never find all the answers
I may never understand why
I may never prove
What I know to be true
But I know that I still have to try

If I die tomorrow
Id be allright
Because I believe
That after were gone
The spirit carries on

Victoria:
Move on, be brave
Dont weep at my grave
Because I am no longer here
But please never let
Your memory of me disappear

Nicholas:
Safe in the light that surrounds me
Free of the fear and the pain
My questioning mind
Has helped me to find
The meaning in my life again
Victorias real
I finally feel
At peace with the girl in my dreams
And now that Im here
Its perfectly clear
I found out what all of this means

If I die tomorrow
Id be allright
Because I believe
That after were gone
The spirit carries on

Hypnotherapist:
You are once again surrounded by a brilliant white light. allow the light to lead you away from your past and into this lifetime. as the light dissipates you will slowly fade back into conSness remembering all you have learned. when I tell you to open your eyes you will return to the present, feeling peaceful and refreshed. open your eyes, nicholas.

domingo, abril 01, 2007

Vemelho


Ele espreitava-a, à porta do quarto, enquanto ela se vestia. Admirava-a enquanto ela se pintava em frente ao espelho, primeiro o rímel preto que lhe alongava as pestanas e fazia com que os seus olhos verdes se tornassem maiores e brilhantes qual esmeraldas, soberbos, preciosos; depois pintava os lábios de vermelho - ela adorava o vermelho - e aquele toque do batom, suave, penetrante, nos lábios, faziam-no desejá-la apaixonadamente, queria sempre beijá-la, mas ela não deixava, estragaria todo o trabalho e tempo despendido a pintar-se.
Ele não pensava assim. Para ele, a cor dos lábios dela, depois de pintados, era uma tentação, uma forma de provocação, qual efeito para a abelha que procura o pólen. Mas ficava sempre a intenção, ela nunca cedeu ao desejo, talvez porque não o tivesse, talvez porque não quisesse ceder ao desejo dele...
Um dia, enquanto se pintava, ela cortou-se, com a tesoura com que cortava as unhas, deixou cair cinco gotas de sangue (ele contou-as uma a uma) sob o vestido que trazia e sugou a última que lhe pendia da ponta do dedo.
A ela, o incidente só trouxe trabalho, teve que pensar numa outra roupa e vestir-se nos últimos minutos que restavam para sair de casa para ir jantar- ela detestava atrasar-se, quando uma mesa tinha sido reservada. A ele, o incidente, fez acordar uma parte animal, selvagem, pura e genuína que guardava dentro de si.
Durante toda a noite, enquanto ela degustava o bife tártaro, ele pensava nas cinco gotas de sangue quente, de um vermelho puro e original de cor. E este devaneio fazia-o desejar-lhe o corpo, tomá-lo e a ideia foi reforçada quando um e outro copo de vinho tinto lhe fez - a ela- incendiar o rosto com rubor e ele percebeu que toda a aquela cor era vida, que o podia aquecer como nunca o tinha aquecido...
Chegados a casa, ele pediu-lhe que não tirasse o batom, pediu-lhe que se sentasse em frente ao espelho, ela ou o vinho, assentiu e ambos sorriram para a imagem reflectida. Mas entre beijos que foram dados, foi-se esbatendo o vermelho dos lábios e a cor morreu.
Ele não se importou com o sucedido, o desejo manteve-se, beijou-lhe o pescoço e sentiu a veia saliente a pulsar e num só golpe a cor voltou a invadi-lo e aí tornou-se sua, todo o calor dela foi para ele quando, ali mesmo, por cinco vezes lhe sugou o néctar. Sentiu-se pleno, saciado, eternamente ligado a ela como ela nunca deixou que fosse.
Enquanto ele se mantinha neste orgasmo mental, ela jazia no leito de ambos, envolvida no cor que lhe dava prazer...
Tão pouco sabia ela; tão pouco sabia ele, que era a cor de prazer para ambos.