domingo, setembro 24, 2006

Não há finais felizes



Anathema - one last goodbye

Quando Alberto atravessou a rua, vinha de olhos fixos na vitrina da pastelaria em frente. Ansiava sentir o aroma adocicado do café, e sentir o paladar do pau de canela com que mexeria o café.
Quando Alberto atravessou a rua, vinha a cantarolar para si a música com que tinha acordado nessa manhã, e num tom mais ou menos afinado, ia assobiando, tentando imitar a parte instrumental da canção.
Alberto atravessou a rua e acenou para alguém que estava à porta da frutaria, voltou-se para trás em reacção a um "bom dia" sonante.
O dia estava claro, o sol brilhava, mas o frio fazia-se sentir, o ar estava gelado e custava a entrar nos corpos quentes das gentes que andavam pelas ruas, que atravessavam estradas assim como Alberto.
E no entanto, este dia, esta manhã, era diferente, era alegre, parecia vivida em compasso lento, mas em que cada minuto, cada segundo era saboreado, como um bom café, que se bebe de olhos fechados(porque é impossível saborear sem compenetração)e se deixa escorregar pela garganta...
Não deviam passar das oito horas da manhã, quando o telemóvel tocou a risada do filhote (era o toque escolhido), e já Alberto estava no meio da estrada e enquanto atravessava a rua, Alberto inspirou três vezes, mas só expirou duas, a terceira ficou presa no peito quando atendeu o telemóvel e do outro lado da linha uma voz familiar lhe disse: "Papá, eles dizem que não há finais felizes..."

(continua)

quinta-feira, setembro 07, 2006

Num instante...



"Sweet jane" -Cowboy Junkies

E num instante tudo se resumiu a nada e o nada foi tudo para mim...
num instante,
nesse instante em que não alcancei o que queria...
1º segundo,
2º segundo,
3º segundo,
ali, a um passo de mim, a um toque de uma mão...
e fico a pensar,
(pergunto-me)
que sentimento é este?
Nos meus sonhos vejo-me a alcançar-te e depois?
Depois é isto... era só atravessar a rua e alcançar-te, dizer "Bom dia!" e tu irias rir-te para mim, um novo dia iria ranascer e o batimento do meu caroação ecoaria em todas as ruas, em todos os sitios onde eu entrasse...
Se hà alguma hipotese de isso acontecer, também me poderias estender a mão... ou então não corras para apanhar o autocarro, perde uns minutos...
os minutos suficientes para a coragem tomar conta de mim e eu me dirigir a ti.

E num instante tudo se resumiu a nada e o nada foi tudo para mim...
num instante,
nesse instante em que não alcancei o que queria...
1º segundo,
2º segundo,
3º segundo,
ali, a um passo de mim, a um toque de uma mão...
Perdeste o autocarro, eu disse-te "Bom dia!"
Tu sorriste, eu sorri...
disseste que tinhas saudades dos cafés no fim do trabalho quando nos encontravamos no café ali perto da paragem do autocarro...
E o meu peito encheu-se de ar, fizemos isso tantos anos, foste embora durante uns tempos, deixei de te ver...e ainda te lembras! Ainda te lembras dos cafés, das conversas... ainda te lembras de mim!
(O telemóvel toca)
"Sim... claro... até logo amor!"
(O que é o amor? Quem é esse amor? Que amor?)
"O meu marido a combinar um jantar para logo!"
(Calado todos estes anos...[ecoa] marido! marido! marido!...)
"Sabias que me tinha casado?"
"Não..."
Os segundos são minutos que se transformam em horas e de repente...
um autocarro...
"Tenho que apanhar este... vens?"
"Não...Não posso...quer dizer... não vou nesse!"
"Hoje não dá para tomarmos café... pode ser amanhã?"
"Amanhã...? Não estou cá... Adeus!"

E num instante tudo se resumiu a nada e o nada foi tudo para mim...
num instante,
nesse instante em que não alcancei o que queria...
1º segundo,
2º segundo,
3º segundo,
ali, a um passo de mim, a um toque de uma mão...

ela fugiu... e eu estive calado todos estes anos em que ela esteve tão perto, tão perto...
Tão perto.

terça-feira, setembro 05, 2006

Hoje e Amanhã...

"HURT" Jonhnny Cash


Hoje sangrei e o golpe pareceu-me muito grande...

Amanhã, se eu deixar de sangrar, será que me vou aperceber que o golpe tem o mesmo tamanho?