domingo, junho 24, 2007

Até Já

Um dia, ela olhou para o papel e percebeu que estava branco e que quanto mais olhava maior era a brancura e mais cheio o papel parecia estar.
Um dia, ela olhou para o papel e não o soube pintar. Não conseguiu escrever o alfabeto, não teve coragem de pintar o arco-íris, nem tentou desenhar a casa dos seus sonhos.
Ela olhou para o papel e percebeu que não podia fazer mais nada se não esperar...e esperou. Esperou que o tempo lhe trouxesse respostas e lhe soprasse palavras ao ouvido, esperou pelo sol da manhã para lhe iluminar o papel... Mas o vento não trouxe nada e o sol escondeu-se.
Ela ficou encostada na cadeira a olhar para o papel e de tanto que o olhou esqueceu-se o que deveria fazer com ele.
Puff! Zipp! Varreu-se tudo...
Agora está aos papéis, rodeada de folhas, palavras a negro, mas nenhuma desenhada pela sua mão, nenhuma de cor azul da esferografica...
Não se chora ela, lamenta não conseguir escrever como as senhoras e os senhores das letras vestidas a negro. E continua à espera de saber o que fazer com a folha de papel...antes que esgote.

Até Já.

8 Comments:

Blogger Unknown said...

Impressaodigital;
As vezes identifico-me com as tuas palavras, especialmente agora... Esse papel em branco, vejo-o como a minha vida neste momento... Não sei o que escrever, o que pintar... O que escreveste está lindo.. Obrigada pelo que disseste no meu blog, tens toda a razão... *

segunda jun. 25, 01:14:00 da manhã 2007  
Blogger Dizeres de Andarilho said...

zabanovianoviPor vezes o sol que brilha ilude os sentimentos, engana maliciosamente…e numa prece egoísta implora-se a luz, para se poder cobrir de tinta as folhas em branco, mesmo que estas encontrem dificuldades em revelarem-se a elas próprias, assim o que é belo e acolhedor nas mentes fica na profundeza do abismo silencioso…até que o esplêndido sol volte a brilhar na tua vida e deixes entrar a fiel e doce lua, nesse palpitante coração…
As palavras voltam… a imaginação volta… tu voltas… deixa de existir o vazio…
Deixa entrar as trevas em teu auxílio, elas são o universo…

segunda jun. 25, 11:30:00 da manhã 2007  
Anonymous Anónimo said...

“Não há beleza, como não há moral, como não há formulas senão para definir compostos. Na tragédia físico-química a que se chama vida, essas coisas são como – chamas – simples sinais de combustão. A beleza começou por ser uma explicação que a sexualidade deu a si própria de preferências provavelmente de origem magnética. Tudo é um jogo de forças, e na obra de arte não temos que procurar a ‘beleza’ ou coisas que possam andar no gozo desse nome. Em toda a obra humana, ou não humana, procuramos só duas coisas, força e equilíbrio de forças – energia e harmonia.”
Fernando Pessoa em cartas a Adolfo Casais Monteiro

Seria fácil definir a escrita como um desejo, caracterizar respectivamente cada sequência de palavras, mas caracterizar a catástrofe que é a faltas das tuas é-me impossível.
Se ler o que escreveste em termos de tom de intuição, posso dizer, sem se tornar num monólogo dramático, que sentes falta do mundo imaginário, que te falta a facilidade imediata de escrever. Digo-te, ouve o grito do coração, e sente tudo e de todas as maneiras, e vais ver que sentes um súbito impulso para escrever não sei o quê…



Nota – e sente tudo e de todas as maneiras, e vais ver que sentes um súbito impulso para escrever não sei o quê… adaptado de:
“sentir tudo e de todas as maneiras”
“quando sinto um súbito impulso para escrever nãos sei o quê”
de Álvaro de Campos


P.S.1 Trevas é o tempo sem horas minutos ou segundos, é o tempo perdido, é somente penumbra e sobras quentes para se esconder, mergulha-se na escuridão que a principio até pode parecer um paraíso, mas se torna num lugar distante para a vida e para a morte. Nas trevas perde-se a existência, e se o que se procura é o lado nocturno, então procura a luz, a luz da lua, que envolve em espirais até se ter atingido o infinito…

P.S.2 Imperialmente encurto a distancia, para fundir no teu corpo os meus beijos que incendeiam a noite flamejante, enquanto espero apenas amanhecer em ti…

Roger

terça jun. 26, 01:09:00 da tarde 2007  
Blogger C. J. said...

Escrever, bem como as melhoers coisas da vida têm de ser aproveitadas hoje. abraço

quinta jun. 28, 12:17:00 da tarde 2007  
Blogger Synne Soprana said...

Lindo!

Adoro o que escreves... A beleza reside na simplicidade e tu sabes isso tão bem...

sexta jun. 29, 10:16:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

Sempre com a tendencia para escreveres bem.
Eu, por cá, continuo a gostar muito de te ler!
Beijos

segunda jul. 09, 04:51:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

"Tenho a audácia de olhar para uma folha de papel em branco.
E deixar que ela assim se mantenha.
É a audácia do silêncio."

quarta jul. 18, 03:11:00 da tarde 2007  
Blogger Constança said...

O papel é o nosso espelho, não é? E, às vezes, estamos tão vazios... :|

Gostei de te visitar. :)*

quinta jul. 19, 09:50:00 da tarde 2007  

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