domingo, abril 01, 2007

Vemelho


Ele espreitava-a, à porta do quarto, enquanto ela se vestia. Admirava-a enquanto ela se pintava em frente ao espelho, primeiro o rímel preto que lhe alongava as pestanas e fazia com que os seus olhos verdes se tornassem maiores e brilhantes qual esmeraldas, soberbos, preciosos; depois pintava os lábios de vermelho - ela adorava o vermelho - e aquele toque do batom, suave, penetrante, nos lábios, faziam-no desejá-la apaixonadamente, queria sempre beijá-la, mas ela não deixava, estragaria todo o trabalho e tempo despendido a pintar-se.
Ele não pensava assim. Para ele, a cor dos lábios dela, depois de pintados, era uma tentação, uma forma de provocação, qual efeito para a abelha que procura o pólen. Mas ficava sempre a intenção, ela nunca cedeu ao desejo, talvez porque não o tivesse, talvez porque não quisesse ceder ao desejo dele...
Um dia, enquanto se pintava, ela cortou-se, com a tesoura com que cortava as unhas, deixou cair cinco gotas de sangue (ele contou-as uma a uma) sob o vestido que trazia e sugou a última que lhe pendia da ponta do dedo.
A ela, o incidente só trouxe trabalho, teve que pensar numa outra roupa e vestir-se nos últimos minutos que restavam para sair de casa para ir jantar- ela detestava atrasar-se, quando uma mesa tinha sido reservada. A ele, o incidente, fez acordar uma parte animal, selvagem, pura e genuína que guardava dentro de si.
Durante toda a noite, enquanto ela degustava o bife tártaro, ele pensava nas cinco gotas de sangue quente, de um vermelho puro e original de cor. E este devaneio fazia-o desejar-lhe o corpo, tomá-lo e a ideia foi reforçada quando um e outro copo de vinho tinto lhe fez - a ela- incendiar o rosto com rubor e ele percebeu que toda a aquela cor era vida, que o podia aquecer como nunca o tinha aquecido...
Chegados a casa, ele pediu-lhe que não tirasse o batom, pediu-lhe que se sentasse em frente ao espelho, ela ou o vinho, assentiu e ambos sorriram para a imagem reflectida. Mas entre beijos que foram dados, foi-se esbatendo o vermelho dos lábios e a cor morreu.
Ele não se importou com o sucedido, o desejo manteve-se, beijou-lhe o pescoço e sentiu a veia saliente a pulsar e num só golpe a cor voltou a invadi-lo e aí tornou-se sua, todo o calor dela foi para ele quando, ali mesmo, por cinco vezes lhe sugou o néctar. Sentiu-se pleno, saciado, eternamente ligado a ela como ela nunca deixou que fosse.
Enquanto ele se mantinha neste orgasmo mental, ela jazia no leito de ambos, envolvida no cor que lhe dava prazer...
Tão pouco sabia ela; tão pouco sabia ele, que era a cor de prazer para ambos.

7 Comments:

Blogger Light said...

Vermelho cor de sangue,das papoilas,do por-do-sol e da minha lagrima num breve Adeus...

segunda abr. 02, 06:02:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

Hoje quero dizer que te adoro, sem enganos nem medos, quero gritar a todos, talvez contagiado pelos tons de vermelho que vejo no infinito, no infinito horizonte, que está pintado pelo vermelho até ao infinito, vermelho que é a cor do fogo desta paixão, que deixo o corpo em rubras brasas, corpo esse que incendeio quando te beijo, com beijos que tornam mais vermelhos os teus lábios, vermelhos como essa tua personagem, que se protege de um mal que não sente…
Na memória brilham-me os teus olhos, um brilho denso e intenso, um brilho único, que no mundo é diferente, ninguém mais o vê, mas está em mim, e pode ficar que não me importo, suspende-me a saudade, dos nosso corpos em movimento, como se ambos fossemos um, e aí nos transformaríamos numa ponte, uma ponte entre o intocável e o impenetrável, seria a nossa passagem para esse ponto, esse pequeno ponto que é local de encontro de todo o desejo… será pecado ou delito? Não chamo-lhe amor, porque amar é bom, não é proibido, fecha-se os olhos quando corre a esperança, que surge de um nada que nos devora, suores e gritos que boca entorna, toque quente e suave, sabor e cheiro que fica na pele… digo com vaidade é amor.
Apetece-me dizer tudo o que sinto… mas faltam-me palavras, as que conheço não exprimem tudo, umas são demasiado pequenas, outras demasiado comuns, parece-me que conheço tão poucas, pego num dicionário, mas hoje só consigo dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo, por isso:
Hoje quero dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo…
Hoje quero dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo…
Hoje quero dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo…
Hoje quero dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo…
Hoje quero dizer que te adoro, mas também quero dizer que te amo…

ROGER

quarta abr. 04, 01:50:00 da tarde 2007  
Blogger *@rclight* said...

suberbo!

lindo vermelho
cor da vida
do amor
da paixão e do calor corporal

e d tudo akilo k nos corre nas veias
nos torna no k somos

bj merecido************************

sexta abr. 06, 02:06:00 da tarde 2007  
Blogger Nandita said...

Precioso... tocante... Deixa-me sem palavras, logo faz-me sentir ridicula ao comentar, porque não sei como.
Mas fica o aplauso, e o gosto do vermelho numa semana em tradição tão roxa...
Beijo

sexta abr. 06, 11:57:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

Pode o livro morrer de vez, e nunca mais a obra voltar, pode a palavra ficar tão pesada, que a pouco e pouco tudo era silencio, um silencio que nos eleva á sua medida, que nos conduz sem rumo nem destino, mas que nos liberta para sempre, deixando-nos num ponto tal de alivio que nos faz sorrir daquilo que nos faz sofrer… desafiamos assim o amor, desprevenidos, e percebemos que se soubéssemos que ele era uma teia, talvez não fossemos capazes de amar, deixaríamos que tudo se desmoronasse, como para que ocultar os nossos segredos, mesmo que fosse só por um mero instante, mas que nesse instante os pudéssemos reduzir a sua origem, os pudéssemos reduzir á origem do pó, sem palavras nem pensamentos, mas o problema não é esconder os segredos, o problema é conseguir fazer deles algo de habitável, indispensáveis, e com palavras delicadas, metemo-los num poema que alimentamos como alimentamos o vicio dos amantes, com corpos nus, ao poema alimentamos com palavras, palavras que compõem o poema, com que o ornamentamos, por mais pobre que seja…
São assim os meus pensamentos, nómadas e passageiros…

Roger

terça abr. 10, 03:34:00 da tarde 2007  
Blogger Lord of Erewhon said...

Acho que para as mulheres tudo tem uma cor... mas para os homens tudo tem duas, e apenas essas, para o bem e para o mal: preto e branco.

Dark kiss.

domingo abr. 15, 12:28:00 da manhã 2007  
Blogger *@rclight* said...

desejo-t um bom resto d fim d semana!*********************

domingo abr. 15, 10:44:00 da tarde 2007  

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