domingo, março 11, 2007

O abismo

A última vez que olhei para o céu estava escuro, as estrelas eram muitas, tantas que me perdi a contá-las, não havia lza à volta, apenas a lua brilhava como prata. E eu , sozinho que estava, perdi-me a tactear o chão em que me sentei. Ao meu lado, a uns palmos de distância, encontrei uma laranja. Segurei-a com as duas mãos e ao olhar o infinito (que não se via, mas que eu imaginava) senti que a laranja era o meu mundo e por momentos senti que o tinha na mão e soube que enquanto a casca estivesse intacta também o meu mundo o estaria.
Mas o sumo da laranja atraiu-me, sentir o doce da fruta nas minhas pupilas gustativas, fez-me descascar a laranja. Gomo por gomo o mundo que eu tinha imaginado foi caíndo E assim que os gomos acabaram, que a fruta se foi e só ficou a casca..também eu decidi deixar o mundo e saltei; saltei para o fundo negro que me vigiava enquanto eu comia a peça de fruta. Olhei para cima e a casca caía atrás de mim, pareceu-me que tapou a lua e de repente a casca era de prata e a lua era laranja... O sol nasceu, quando o dia terminou para mim.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Soberba a tua descrição dos abismos das nossas vidas.Gostei muito.

segunda mar. 12, 06:19:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

o abismo come-se?
;)

quarta mar. 14, 11:30:00 da tarde 2007  
Anonymous Anónimo said...

Procura-se sempre qualquer coisa mas nem sempre se encontra, mas não temos que ter medo, poderemos estar sós, muito embora não se saiba para que serve um homem só, ou do que vale, é então que ideias nos assolam, questiona-se que abominável castigo se cometeu para ter que continuar a viver, assim sozinho, ou não, porque há quem esteja habituado a viver sem pensar no que se faz, porque se vive, não quer dizer que pelo simples facto de não ter ideias, não sinta, pois o simples convívio prolongado entre os homens obriga-nos a explicações ou formalidades desnecessárias, é neste abismo que vivemos, e que por vezes desejamos escutar o silencio de um homem só.

Roger

sexta mar. 16, 02:38:00 da tarde 2007  
Blogger Nandita said...

O mundo é uma laranja, só vivemos se nos formos destruindo, e destruindo o que está à nossa volta.
Sei que não tem muito a ver, mas era o que me martelava cá dentro enquanto te lia... Que bom ouvir-te, miuda...
Beijo

(papilas... que pupila é outra coisa ;) )

domingo mar. 18, 11:02:00 da manhã 2007  
Anonymous Anónimo said...

Pode o livro morrer de vez, e nunca mais a obra voltar, pode a palavra ficar tão pesada, que a pouco e pouco tudo era silencio, um silencio que nos eleva á sua medida, que nos conduz sem rumo nem destino, mas que nos liberta para sempre, deixando-nos num ponto tal de alivio que nos faz sorrir daquilo que nos faz sofrer… desafiamos assim o amor, desprevenidos, e percebemos que se soubéssemos que ele era uma teia, talvez não fossemos capazes de amar, deixaríamos que tudo se desmoronasse, como para que ocultar os nossos segredos, mesmo que fosse só por um mero instante, mas que nesse instante os pudéssemos reduzir a sua origem, os pudéssemos reduzir á origem do pó, sem palavras nem pensamentos, mas o problema não é esconder os segredos, o problema é conseguir fazer deles algo de habitável, indispensáveis, e com palavras delicadas, metemo-los num poema que alimentamos como alimentamos o vicio dos amantes, com corpos nus, ao poema alimentamos com palavras, palavras que compõem o poema, com que o ornamentamos, por mais pobre que seja…
São assim o meus pensamentos, nómadas e passageiros…

Roger

terça abr. 10, 03:27:00 da tarde 2007  

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