Não quer acreditar...
A Silvia, foi hoje visitar o marido ao hospital. Foi ve-lo pela vigésima vez, aquele quarto cinzento.
Sérgio,o marido, todos os dias a espera, sabe que ela vem com um sorriso nos lábios, que lhe dá um beijo, lhe trás os cigarros e lha dá as noticias lá de casa.
Ela, todos os dias faz um esforço para sorrir, para falar dos filhos, para lhe dizer que em breve tudo passa e matam as saudades longe dali.
Tem saudades de lhe passar as mãos pelo cabelo, aquele cabelo farto,espesso, brilhante...que ela sempre invejara! tem que se esforçar para não se lembrar que ele não se levanta sozinho da cama, que ele poderá não voltar para casa, que cada cigarro que ele fuma é o fim mais perto...tenta não se lembrar do dia em que ele foi internado, em que a filha mais nova se agarrou ao pai na esperança de não o deixar, das vezes que o filho pergunta "quando vem o pai para casa?", das vezes que não tem noticias boas para dar á familia, das vezes em que se levanta para ir ao quarto de banho e fica no corredor a limpar as lágrimas...A Silvia só se quer lembrar dos abraços fortes que o marido dava, das risadas contagiantes, dos entido de humor, que ainda continua refinado, quer-se lembrar do ontem e esquecer que o amanha espreita.
Sérgio,o marido, todos os dias a espera, sabe que ela vem com um sorriso nos lábios, que lhe dá um beijo, lhe trás os cigarros e lha dá as noticias lá de casa.
Ela, todos os dias faz um esforço para sorrir, para falar dos filhos, para lhe dizer que em breve tudo passa e matam as saudades longe dali.
Tem saudades de lhe passar as mãos pelo cabelo, aquele cabelo farto,espesso, brilhante...que ela sempre invejara! tem que se esforçar para não se lembrar que ele não se levanta sozinho da cama, que ele poderá não voltar para casa, que cada cigarro que ele fuma é o fim mais perto...tenta não se lembrar do dia em que ele foi internado, em que a filha mais nova se agarrou ao pai na esperança de não o deixar, das vezes que o filho pergunta "quando vem o pai para casa?", das vezes que não tem noticias boas para dar á familia, das vezes em que se levanta para ir ao quarto de banho e fica no corredor a limpar as lágrimas...A Silvia só se quer lembrar dos abraços fortes que o marido dava, das risadas contagiantes, dos entido de humor, que ainda continua refinado, quer-se lembrar do ontem e esquecer que o amanha espreita.
6 Comments:
obrigada Du!
que saudades! :) adoro os teus comentários!
Ana,
Notável a naturalidade e realismo das tuas "estórias", retratam com fidelidade um momento, que pode ser de qulaquer um de nós (...)
Gostei de conhecer as tuas palavras, que voam de Braga para onde as quiserem e souberem ler !
Grato pela visita.
Nós somos um país de pessoas saudáveis. Alimentamo-nos directamente da televisão com anúncios de pessoas esbeltas, normalmente em movimento, cheios de rituais para alcançar a mais beleza, mais perfeição, mais certezas. E a doença nesse campo é um contracenso. Quer dizer, andámos aqui nós todos contentes para depois nos massacrarem com uma doença injusta?
Pois, pq para nós a doença é injusta. Não fizemos nada para a ter,a não ser um determinado intuitivo genético, e portanto, nesta sociedade de oportunidade e igualdade (normalmente igualdade para nós próprios) a doença é vista como um mal-maior pq é um mal incontrolável. Antigamente dizia-se que a doença aproximava as pessoas, não é raro nos livros dos anos 40 e 50 termos estórias de pessoas que se uniam por via da doença. Hoje em dia a doença é um incómodo que não só impede a pessoa afectada de viver a sua vida como tb impede as pessoas À sua volta de a apreciarem. E nisto a doença ganha a sua outra faceta moderna: o quarto e hospital. Muitos pacientes é-lhes dito que para os seus familiares já n ha´esperança e mesmo assim elas dizem que querem que eles fiquem no hospital, nesse ambiente hostil e depressivo. Assim, exclui-se a morte do ambiente familiar, e o hospital é o sítio onde se vai para morrer, o tal ritual de aceitação histémica que torna o hospital fim e início de ciclo, que nos cura ou acaba com as nossas últimas defesas...
gostei da historinha;muito boa!!
parabéns e continua a escrever assim.
Noiseformind: "Hoje em dia a doença é um incómodo que não só impede a pessoa afectada de viver a sua vida como tb impede as pessoas À sua volta de a apreciarem."
Não podias ter mais razão...
Tenho a minha avó cá em casa, acamada desde que teve um AVC, há mais de dois anos... e aquelas pessoas que vêm cá "por acaso" acham sempre estranho que nós a tragamos para a cozinha, que no Verão eu venha com ela para o jardim, na cadeira de rodas...
Parece que não querem ver... não sao eles que convivem diariamente com as limitações da minha avó, mas parece que ficavam mais descansados se ela estivesse fechada naquele quartinho, realmente "a morrer aos poucos"... nós pelo contrario fazemos tudo para ela ver gente, ver coisas... é a única maneira de ela manter alguma "qualidade de vida".
impressaodigital, parabens! :)
(torna-se chato dizer-te sempre o mesmo, mas paciencia... ;) )
É! parabéns, uma vez mais, impressaodigital. Estas histórias fazem-nos pensar no dia-a-dia, que podia ser de qualquer um de nós, bastava que mudasse uma pequena insignificância, um estar no lugar errado à hora errada!
Quanto à doença, para mim enquanto médico, que lido todos os dias com ela, é preciso nunca me esquecer deste lado humano, deste sofrimento muitas vezes invisível e ao qual nos vamos tornando insensíveis de tantos sofrimentos vermos.
E para todos, importa reflectir sobre os internamentos, sobre as opções terapêuticas oferecidas, sobre os "velhinhos" abandonados porque dão trabalho em casa ou os outros cuja família "não tem condições para cuidar". Faz-nos falta a todos repensar isso e tentar encontrar um caminho melhor..
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