"Não pertenço aqui, não a este mundo...
Algum dia teria que me aperceber disto.
Olhei à volta e vi que não podia mudar nada. Não me vejo na força, na coragem - chamem-me cobarde- de mudar para a incerteza, se é já no incerto que vivo.
Tomei uma decisão, não me pus ao encargo de ninguém, senti as redéas, pela primeira vez, e vou tomar conta de mim...
Obrigado por terem olhado por mim...
Obrigado pela paciência, pelas boas palavras, pelos abraços e pelos beijos...
Obrigado por me ouvirem, por me entenderem, por me julgarem...
Obrigado pela partilha, pelos sorrisos, pelas conversas...
Chegou a altura do meu fim, chegou a altura de acabar com uma existência que me entedia...
Chamam-me do alto, não sei voar, mas não me aguento de pé.
Desabafo pela última vez antes de apanhar o comboio.
A lágrima, sempre uma, sozinha como eu, salgada, que me toca os lábios, faz com que acene um "adeus"...
Até um dia,
quando eu "renascer"...
Francisco"
Francisco escreve em frente ao seu forte e também sua fraqueza, em frente ao seu guarda de insónias: o espelho... e espera que a imagem reflectida não seja espelho de ninguém: não saber o que se quer e quem se é...o seu único arrependimento.
E as palavras são lidas por quem mais o ama, por quem o criou e deu colo, por quem chora por ele, pela falta e pela saudade... Há vontade de o abraçar, e há vontade de o chorar. Recorda-se a história de uma vida e parece que se disse "olá" e logo a seguir "adeus"... não se é feliz...
E a dor persegue quem fica, a carta é lida e relida, não há glória nesta história, não há heróis no céu para salvar esta vida... Chora-se Francisco.
A casa vazia, com cheiro a tequilla, enche-se de gente que lamenta não ter estado lá, chegam amigos com a brisa da manhã, mas não trazem oxigénio suficiente para uma vida, e nada renasce aqui.
Há uma mãe no canto da sala que não consegue tirar os olhos do espelho partido em mil pedaços e só consegue pensar "são sete anos de azar...até à minha morte, até dar a mão ao meu filho."
E as mentes só pensam em Francisco e cada alma pensa: "se eu soubesse..."
(Todos precisamos da ajuda de alguém... Li as linhas dos teus livros preferidos...vi os videos e as fotografias e olho agora os espelhos olhos nos olhos. A tua lição está dada... gostava que ma tivesses dito.
Até um dia)