E dormiu para sempre...
A Bela e o Monstro - Tema principal
A luz ilumina a sala, mas há um canto que é resguardado da luminosidade...
Lá está o Luís, um homem adulto, com a vida organizada, mas num turbilhão de experiências e sensações...está apaixonado.
Fez-se a desgraça do homem. Deixou de comer e de beber, alimentava-se de ar, tinha energia como nunca e parecia iradiar luz.
Ai Luís, Luís em que te foste meter.
Não sabia esta pobre criatura que a musa da sua paixão continuava a comer e a beber como dantes e que tinha a mesma energia de sempre e nem parecia irradiar luz alguma.
Mas Luís, sempre que a via sair do elevador, sentia uma ligeira taquicardia e os olhos pareciam saltar-lhe das órbitras, todo ele sorria.
Acorda Luís, sonhar muito faz esquecer a realidade.
E ela dizia Bom Dia todos os dias a esta alma feliz, mas era um cumprimento de educação, sem ternura, sem afecto... Aliás Luís era o homem de óculos fundo de garrafa no canto mais escuro da sala...
Mesquinha, "snob", altiva...
Luís via a doçura daquela mulher, sentia o mel das palavras, aquelas duas, sempre as mesmas, repetidas todos os dias do ano às nove horas da manhã.
Era pontual ela! E que nome tinha?
A criatura "snob" era bonita, bem ajeitadinha, com cérebro de minhoca!
E têm cérebro tais bichos?
E de nome... chamava-se Margarida.
Ui! toda ela era doce... em ponto de açucar...peganhenta!
E não é que no dia em que ela não apareceu às nove da manhã, no dia em que aquele elevador subiu sem ela (soube-se mais tarde, que estava de férias por motivo de enlace matrimonial com direito a mais mel nas Maldivas), Luís, sentou-se no seu canto escuro, dobrou-se sobre si mesmo, agarrou a barriga - diz-se, em jeito de dor de alma- e berrou, ao que parece um grito que pareceu um pio e deixou cair uma gota de água daqueles olhos que, vistos pela lente dos óculos, eram pequeninos, pequeninos... e adormeceu.
Sim, caíu e adormeceu.
Há quem diga que é um "belo adormecido" e há quem conclua "sem princesa para o beijar e acordar".
Manuela Marques - s/título 2001/2002